Preocupado com o risco à saúde da população com a crescente onda da produção de alimentos transgênicos, Padre João Batista, da Paróquia São Sebastião do Sacramento, em Manhuaçu, incentiva o compartilhamento de sementes das variadas culturas agrícolas da região entre os agricultores familiares, visando aumentar a produção e o acesso a estes alimentos naturais a toda a população.
Com participação ativa em encontros de lideranças sociais, Padre João Batista (carinhosamente chamado Padre Bidu) leva consigo amostras de milho crioulo, quiabo ‘cozinha se quiser’ e açúcar mascavo, para estimular esta ideia junto aos agricultores e a população em geral. Ele incentiva este compartilhamento, com a proposta social da geração de alimentos, a atenção com a saúde da população, por se tratar de alimento in natura, sem agrotóxico, conservantes e outros produtos químicos que prejudicam o organismo, além da preservação da identidade agrícola da região, com a preservação das culturas/ produção que são próprias da terra, como o milho, o quiabo e o açúcar mascavo, citados anteriormente.
Padre João Batista: ‘Nossa missão é trabalhar com as comunidades a conscientização sobre o que é alimento e o que é gênero alimentício. O que nós encontramos na agricultura familiar e até mesmo nas grandes propriedades é este cuidado com a semente, este cuidado com a alimentação. Como dizia o grande filósofo Hipócrates: que o meu alimento seja o meu remédio, que o meu remédio seja o meu alimento. É tempo de plantar. Vamos plantar só por que dá lucro? Ou vamos plantar alimento de qualidade? A boa semente vai gerar bons frutos e frutos de qualidade à mesa dos agricultores e das famílias. Como trazer e colocar veneno à mesa onde vai gerar doenças? Sabemos que na região de Manhuaçu, por exemplo, há muitos casos de câncer. Até mesmo com a questão do COVID-19, a diabetes, está provado que a insuficiência alimentar prejudica muito. Pode ser que você esteja com o estômago cheio e insuficientemente ou mal alimentado. Qual a semente que você tem em sua casa e gostaria de compartilhar conosco? Então, que entre em contato com CMDRS, a EMATER, com a Secretaria de Agricultura do Município, para oferecer e compartilharmos juntos. O objetivo é que cada família tenha em casa pelo menos um pouco de sementes que fazem parte da nossa vida, da nossa história, dos nossos antepassados. O que podemos aprender com nossos pais? Este é o nosso caminho. Evangelizar também é se preocupar com a saúde das pessoas’, afirmou.
TERRITÓRIO LIVRE DE MINERAÇÃO, EM DEFESA DA VIDA
O sacerdote reiterou ainda os esforços para a preservação ambiental da região e o direito de a população manifestar se é favorável ou não às atividades de mineração em Manhuaçu. Ele propõe a realização de movimentos em campo, como celebração de Santa Missa em áreas de paisagens naturais da região, visando maior conscientização da população sobre o que está em jogo com as ações de extrativismo mineral.
‘Nós devemos trabalhar juntos. Não existe movimento de discórdia, existe organização social. É assim que as comunidades se defendem, dialogam e aprendem no dia-a-dia. Pensamos no dia 12 de outubro para esta movimentação, porque é um dia marcante e se tornou um grande feriado para o povo católico. E, a partir daí, todo dia 12 de cada mês, se pudermos procurar um local onde possamos celebrar, mesmo que seja apenas a reza do Terço, será muito importante. Aos nossos irmãos e irmãs evangélicos, sabemos que eles têm este carinho de orar no monte, e, isto, tem origem no Primeiro Testamento, com Moisés, então, que possamos também fazer estes movimentos neste momento, porque ajudará a trabalhar a ideia do território livre de mineração. Nós amamos a agricultura familiar, amamos os montes onde podemos orar e levar as pessoas ao encontro com o Pai, ao encontro com Deus. Nós, católicos e evangélicos precisamos trabalhar cada dia mais aquilo que nos une, e, muitas vezes, deixar de lado aquilo que nos divide; o que nos divide é muito menor em consideração e proporção ao que nos une em defesa da vida. A agricultura familiar é, na verdade, alimentação para todos. Basta você visitar as cidades onde a mineração tem poder supremo ou quase supremo, onde as pessoas são funcionárias, empregadas das mineradoras, e perceberá que, quando acabar a exploração dos minérios, as pessoas ficarão devolutas, sem saber o que fazer, enquanto que a agricultura familiar é diversa, ela proporciona que as famílias tenham o seu pedaço de terra, mesmo que pequeno. Que possamos ao menos ter o direito de dizer que queremos ou não queremos a mineração. Isto está previsto na Constituição Federal, a dignidade humana. Que Deus sempre nos inspire no caminho da vida’, concluiu Padre João Batista.
(Thomaz Júnior / Diário de Manhuaçu)