Bandeirante Domingos Fernandes de Lana
Natural de Arapongas (na época, pertencente à Viçosa-MG), o bandeirante Domingos Fernandes de Lana teria vindo de Raul Soares, em 1841, e, aqui se estabelecido até 1847, motivado pela valorização financeira da planta conhecida como poaia (Cephaelis ipecacuanha).
‘O poaieiro, como era chamado Domingos Fernandes de Lana, fazia-se acompanhar de amigos, escravos, bem como de índios catequizados, e tinha como único objetivo em sua passagem por estas bandas a exploração de poaia, produto abundante na região e que, pela sua grande procura no mercado medicinal, constituía apreciável fonte de renda’.¹
Portador de defeito físico, Domingos Fernandes de Lana, era casado com Dona Marianna Carlotina da Rocha, e, em determinado momento, teria sido acusado por maus tratos aos índios.
‘Pode ser que Domingos Fernandes de Lana tenha deixado a região em razão da prisão que sofrera por ordem de Guido Tomaz Marliere, encarregado da inspetoria das Regiões Militares do Rio Doce, sendo Domingos Fernandes recrutado para prestar o serviço militar e acusado de maltratar os índios da região. Entretanto, ele fora solto por ser portador de defeito físico, incompatível com o serviço militar e pelo seu prestígio, por ser filho do Capitão do Distrito de Descoberto, Casimiro de Lana, e sobrinho do Comandante da 3ª Divisão e de outros dois comandantes da mesma região’.²
Em outro relato, Domingos Fernandes Lana teria tido conduta melhor com os índios.
‘Domingos Fernandes Lana manteve relação amistosa com os índios puris (botocudos) que habitavam a região e passou a explorar a floresta através do comércio de especiarias como a ipecacuanha e madeiras de lei. Com a descoberta de ouro no leito do rio Manhuaçu, na região atual de Santana, Fernandes Lana abandonou a atividade extrativista e iniciou marcha descendo o rio, em busca do rico cascalho, chegando até Aimorés, onde faleceu. Os índios puris que habitavam Manhuaçu, ao lado da caça e da pesca, praticavam o cultivo rudimentar o solo, pois há muito tempo haviam abandonado a vida nômade. A cultura básica era a mandioca. Também se plantava milho sob o sistema de coivara, isto é, queima do mato para abrir clareiras e o preparo do terreno para a semeadura. Foi a expedição do bandeirante Fernandes Lana que trouxe pra a região a cultura da batata- doce, que permitia ser comida como raiz cozida na brasa, dando menos trabalho no preparo da alimentação dos silvícolas’.³
Conhecendo a poaia
Da mesma família do café, a planta – também conhecida como ipeca- era extraída da natureza pelos índios, sendo mercadoria muito disputada na época, por suas propriedades medicinais como purgativo e antídoto para qualquer veneno. Além disto, seu xarope era utilizado em tratamento médico como indutor do vômito, entre outros usos.
‘Com o declínio do ouro, surgiram os poaieiros, em busca de poaia ou ipecacuanha, raiz de muitas virtudes medicinais e que constituiu nosso primeiro comércio. Muitas famílias chegaram antes da libertação dos escravos, que vieram também, para fazer o árduo trabalho de desbravamento da floresta virgem, onde formaram suas fazendas na zona rural. Outras famílias chegaram depois da abolição, já no governo republicano, em 1889’.4
Conheça mais sobre a poaia nesta reportagem especial, acesse: https://globoplay.globo.com/v/2649352/
O busto
Instalado na Praça 05 de Novembro, no centro de Manhuaçu, o busto do Bandeirante foi inaugurado no feriado do padroeiro São Lourenço, em 10 de agosto de 1960, na gestão do então Prefeito Antônio Xavier (in memoriam). Ele fica sobre uma base piramidal de 2,45 metros de altura.
O busto homenageia o Bandeirante Domingos Fernandes Lana e a todos os desbravadores e líderes que tiveram participação na formação do município e aos grandes administradores de Manhuaçu.
Entre 1997 e 1998, o busto foi removido da praça e levado para o depósito da Prefeitura, com danos no nariz e no braço.
Em 1999, a Prefeita Cici Magalhães, com o apoio do saudoso Vereador Cláudio Lísias de Oliveira (Xerife), atendeu reivindicações da população e providenciou seu retorno à praça, com a contratação de serviço de restauração da escultura, executado pelo artista plástico João Rosendo.
A reinauguração foi realizada em 20 de julho daquele ano.
O busto foi tombado como Patrimônio Histórico do Município com o Decreto nº 1.128, de 30 de novembro de 2016, na gestão do Prefeito Nailton Heringer.
Em sua placa, os dizeres: ‘Praça 5 de Novembro, Município de Manhuaçu. Criado em 5 de novembro de 1887 Lei Provincial no: 2.407. Homenagem de Gratidão do Povo do Município de Manhuaçu ao Espírito Pioneiro dos seus desbravadores e aos líderes de uma emancipação. Construída na administração do Prefeito Antônio Xavier, Manhuaçu 10 de agosto de 1960. Monumento Histórico restaurado na administração 1999-2000. Cada um faz, todos ganham’.
Abertura da primeira estrada
Ainda conforme os registros, em 1843, o Curador Nicácio Brum da Silveira fundou o aldeamento em local conhecido mais tarde como ‘Ponte da Aldeia’.
Naquele mesmo período, o Senhor Antônio Dutra de Carvalho estabeleceu a primeira propriedade rural, com limites que se estendiam por três léguas de largura em cada margem do Rio Manhuaçu e mais três léguas de fundo.
Antônio Carvalho também teria ‘alugado índios junto à curadoria para abrir a primeira estrada da região’, o que possibilitou a vinda de novas famílias que aqui se estabeleceram e a ampliação do comércio local.
Datam desta época, a vinda das primeiras famílias europeias e a diversificação da produção agropecuária com o plantio do café e a criação de porcos.
Antes de Domingos Fernandes Lana
A relação com os índios nem sempre foi amistosa. Pelo contrário, diversos conflitos ocorreram.
A saudosa escritora Adeuslyra Corsette relata que ‘depois da tentativa de Sebastião Fernandes Tourinho e de seu companheiro Franciso Bruzza Espinosa, que não conseguiram chegar aqui, impedidos pelos índios aimorés, no ano de 1676, chegou o sertanista Domingos Fernandes de Lana, natural de Arapongas, quase duzentos anos depois de Tourinho. Hábil para lidar com os silvícolas, ajudado por Nicácio Bruno da Silveira, entrou em entendimento com os índios puris, que tinham suas malocas no lugar onde hoje se ergue a ‘Matriz de São Lourenço’ e conseguiu leva-los para o lugar denominado depois de ‘Ponte da Aldeia’. Uns índios retiraram-se para um lugar conhecido como Coqueiro’.
‘Conversando, há muitos anos, com uma pessoa que havia sido escravizada e que morou no Asilo São Vicente de Paulo até morrer, ouvi-o dizer que os índios faziam grande oposição aos brancos, ao ponto de não deixarem os padres, que vinham de Carangola para catequizá-los, nem apearem dos cavalos. Se não trouxessem fumo, cachaça ou laranja, tinham que voltar imediatamente. […] Um dia, chegaram uns homens brancos e os índios caíram nas conversas deles e ajuntaram as ‘cuias’ e foram para a Ponte da Aldeia’.5
(Pesquisa e redação: Thomaz Júnior)
Com grande colaboração de Sebastião Fernandes.
Fontes bibliográficas:
1 – (SAYGLI, Monir Ali. História de Caratinga. Caratinga: Ana Montes, 1997, p. 17-18 apud SANTOS, Flávio Mateus dos. A República do Silêncio, 2009, p. 116);
2 – (SAYGLI, apud SANTOS, 2009);
3 – (RODRIGUES, José Fernandes. Manhuaçu: fatos e notas de seus primórdios);
4 – (CORSETTE, Adeuslyra. Nossa Terra, Nossa Gente. 1998. 1ª ed., p.11);
5- (CORSETTE, 1998);
6- (SANTOS, 2009 apud Dossiê de Tombamento do Busto do Bandeirante, 2016);
(SANTOS, Flávio Mateus dos. A República do Silêncio, 2009, 1ª ed.);
(BATISTA, Núbio Argentino. Coisas do Rio Grande. 2012);
Dossiê de Tombamento do Busto do Bandeirante (http://www.manhuacu.mg.gov.br/abrir_arquivo.aspx/Dossie_de_Tombamento_Busto_do_Bandeirante_?cdLocal=2&arquivo=%7B2B04CA5A-0AD4-1AC1-DBEB-EAE15A2BDD6A%7D.pdf);
Blog Região de Manhuaçu (http://regiaodemanhuacu.blogspot.com/p/domingos-fernandes.html);
https://pt.slideshare.net/ecsette/histria-de-manhuau;
http://euamoipatinga.com.br/ruas/noticias.asp?video=Caratinga-MG.