A Semana do Meio Ambiente é marcada com a boa notícia do nascimento de filhotes de muriquis na região das reservas particulares Sossego do Muriqui e Mata do Sossego, em Simonésia. A informação foi divulgada nesta terça-feira, 07/06.
A notícia do nascimento de dois filhotes de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), revelada pelos pesquisadores do projeto Muriquis do Sossego, é uma ótima informação e traz esperança no trabalho intenso de preservação da mata atlântica e de seus habitantes.
O projeto é executado pela ONG Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB), que há vários anos monitora a população de muriquis-do-norte da Mata do Sossego. A entidade dedica esforços pela manutenção da integridade do corredor ecológico Sossego-Caratinga, onde se localizam as reservas particulares RPPN Sossego do Muriqui e a RPPN Mata do Sossego.
Maior representativo contíguo remanescente da Mata Atlântica regional, a área exerce relevante função no equilíbrio climático e abriga riquíssima biodiversidade, além de ser o berço de dezenas de nascentes responsáveis por irrigar terras de diversas propriedades rurais de Simonésia e Manhuaçu. Trata-se de um fragmento de mata que está inserido nos Hotspots Mundial e nas áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade da Reserva da Biosfera.
Emoção
O naturalista Theo Anderson, que há dez anos mora na floresta e atualmente é o administrador da Base de Campo da RPPN Sossego do Muriqui, criada por Decreto Estadual, em 2018, acompanha o dia-a-dia dos muriquis e de outros animais que lá habitam. Ele comenta sobre a emoção de presenciar uma das fêmeas que há nove anos viu nascer, dar luz a um belo filhote. “Trata-se de uma espécie em que existem menos de 1.000 exemplares na natureza nos 10% restantes da Mata Atlântica. Cada indivíduo conta e muito no processo de perpetuação da espécie que está na categoria de criticamente em perigo de extinção. É uma satisfação, emoção e privilégio poder fazer esse registro, ainda mais porque o grupo de muriquis do Sossego é pequeno e muito difícil de ser monitorado por causa da extensão da floresta e de estar em uma topografia altamente montanhosa”.
Fernanda Pedreira Tabacow, primatóloga do MIB, que coordena o projeto “Muriquis do Sossego” desde 2011, enfatiza a importância da criação das duas unidades de conservação em um contexto onde outras áreas preservadas por pequenos produtores rurais que são interligadas permitem a circulação tanto dos muriquis quanto de outros animais que ali fazem seu habitat. “Associado a preservação da fauna, devemos levar em consideração que 100 milhões de pessoas dependem das águas produzidas no Bioma Mata Atlântica, o que também dá autenticidade a tudo que é feito na Mata do Sossego. E a boa notícia do nascimento de mais dois filhotes consolida tudo que foi feito principalmente no que se refere ao monitoramento continuado com os muriquis. É uma espécie ‘guarda-chuva’ encontrada em algumas ilhas da Mata Atlântica”, concluiu a pesquisadora.
Espécie guarda-chuva é o termo utilizado para representar uma espécie cujo habitat natural é ocupado por uma área ampla na qual a sua conservação permite a conservação de diversas outras espécies.
Trabalho constante de preservação
O ambientalista Eduardo Bazém, presidente da AMA (Associação dos Amigos do Meio Ambiente), foi autor do primeiro registro fotográfico dos muriquis na Mata do Sossego em abril de 1984. Ele relembra um dos episódios mais marcantes dessa trajetória. “Em 1997, diversos produtores rurais procuraram a entidade preocupados com um avassalador desmate autorizado pelo órgão ambiental que estava acontecendo e ameaçava toda a Mata do Sossego, na região do córrego do Belisarinho. Tivemos que agir com rapidez! Pedimos apoio à Polícia Ambiental e mobilizamos a imprensa para divulgar o desastre. Quando soubemos que o governador de Minas Gerais da época, Eduardo Azeredo estaria em Manhuaçu, exatamente na semana do meio ambiente, nós da AMA colhemos em um abaixo-assinado cerca de duas mil assinaturas. Durante sua visita, quebramos o protocolo do cerimonial e conseguimos entregar ao governador a solicitação do embargo do desmatamento. Felizmente foi o que aconteceu”, detalhou.
Bazém conta que o segundo passo era ter certeza de que a área seria regenerada e preservada. “Ao sabermos que a empresa Mineração Curimbaba estava apoiando diversas causas sociais na região, procuramos o consultor Francisco Portes a quem sugerimos que a empresa adquirisse área do desmate para fins exclusivos de conservação, justificando toda sua peculiaridade ambiental. Nossa solicitação foi encaminhada para análise e, em 2006, a empresa adquiriu espontaneamente os 339 hectares que estavam sendo desmatados. Essa hoje é a RPPN Sossego do Muriqui, criada por decreto estadual em 2018. Passados todos esses anos, ao recebermos a gratificante notícia do nascimento de mais dois filhotes de muriquis, aumenta mais ainda nossa responsabilidade e nos incentiva a continuar trabalhando pela conhecida Mata do Sossego, como fazemos há quase quatro décadas”, comemora.
(Carlos Henrique Cruz)