O café chegou ao Brasil em 1727 e, desde então, foi sempre colhido de forma manual até 4 de junho de 1979, ano em que foi lançada a primeira colhedora de café mecanizada do mundo, a K3, desenvolvida pelo imigrante japonês Shunji Nishimura, em Pompeia (SP).
De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), principal instituição intergovernamental dessa cadeia produtiva, a cultura é produzida em mais de 70 países, desempenhando papel importante na economia de muitos deles. A Plataforma Global do Café estima que existem de 20 a 25 milhões de produtores espalhados por esses países.
O trabalho representa a maior parte dos custos em muitos países produtores, mas esse fator varia muito entre agricultores, regiões e países, conforme os sistemas de produção, produtividade e eficiência dos mercados de insumos.
Uma pesquisa conduzida pelo Departamento de Economia Agrícola e de Recursos da Universidade da Califórnia em Davis (UCDAvis), nos Estados Unidos, realizada com a colaboração da OIC em 2016 e 2019, investigou a rentabilidade da cafeicultura em países selecionados da América Latina e apontou que a mão de obra representa a maior parcela dos custos. Na Colômbia, essa variável é de 75%; na Costa Rica, 57% e em Honduras, 56%.
A pesquisa teve a finalidade de melhorar a compreensão dos custos de produção e fatores que impulsionam a lucratividade das fazendas produtoras de café. O documento afirma que a exceção é o Brasil, caracterizado por um grau mais elevado de mecanização de sistemas produtivos.
Inspiração brasileira
Na Colômbia, o terceiro maior produtor de café do mundo, depois do Brasil e Vietnam, a topografia montanhosa e o cultivo de café em áreas inclinadas dificultam muito a colheita mecânica e os trabalhos de cultivo. “Por essa razão, há uma alta dependência de trabalhos manuais. De todos as atividades de cultivo, a colheita é a que tem maiores exigências e, por isso, um alto custo de infraestrutura”, diz o gerente-técnico da Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia (FNC), Hernando Duque. Por meio de um esforço conjunto entre a FNC e a empresa brasileira Brudden Equipamentos foi possível desenvolver uma máquina para colher o café, inspirada em modelos brasileiros e adaptada às características da cultura cafeeira colombiana.
O equipamento se chama Brudden DSC-18 – Derriçadeira Seletiva de Café, lançada no fim de 2018, capaz de coletar até 28 kg de café por hora, por meio de um sistema de vibração, utilizando lonas no solo do cafezal. “A proposta do projeto é melhorar a produtividade da mão de obra e diminuir o custo na colheita de café”, afirma Duque.
Na Costa Rica, 92% dos cafeicultores são considerados pequenos produtores, o que traz uma grande distribuição de recursos e impactos na geração de empregos. A cafeicultura representa uma tradição de 200 anos, com impactos no desenvolvimento social e econômico do país. Mais de 80% da área de produção de café está entre 800 e 1.600 metros de altitude.
Segundo o gerente técnico do Instituto Costarriquenho do Café (Icafé), o agrônomo Carlos Miguel Fonseca Castro, as plantações de café na Costa Rica, por tradição, têm lavouras de alta densidade que dificulta o uso de equipamentos mecânicos de colheita. “A implementação desta tecnologia envolveria não apenas uma mudança de paradigma, mas também um redesenho da plantação e a conceituação das tarefas de colheita”, avalia.
“Há alguns anos temos feito alguns testes com equipamentos mecânicos tipo derivadora e, ultimamente, temos testado os equipamentos de vibração Brudden com as telas, mas somente de forma experimental”, conta o gerente técnico.
Mão de obra é gargalo
O Vietnã, no sudeste asiático, produz o café mais caro do mundo e é o maior exportador da variedade robusta – está atrás do Brasil no ranking dos maiores produtores. De acordo com dados da OIC, o país asiático responde por cerca de 45% da produção global desses grãos. O chamado cinturão de café nas planícies centrais do Vietnã responde por 80% de sua produção. Três quartos da área do país é montanhosa, por isso, a colheita é realizada tradicionalmente de forma manual.
De acordo com a declaração do Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural do Vietnã, Le Quoc Doanh, na 125ª Sessão do Conselho Internacional do Café, realizada em setembro de 2019, em Londres, a escassez de mão de obra no país levou ao aumento do custo da produção de café. Para sustentar a vida, a força de trabalho jovem teve que deixar os cafezais para trabalhar em parques industriais e áreas urbanas.
O futuro da colheita
O economista sênior da Organização Internacional do Café, Christoph Saenger, ressalta que o Brasil é líder em colheita mecanizada (com colheitadeiras automotrizes), mas acredita que ser improvável que a colheita seja completamente mecanizada até 2050, ao se referir a outras regiões produtoras.
“Os baixos custos de mão de obra em alguns países, como os do continente africano, bem como a topografia desfavorável, podem limitar a adoção de máquinas para a colheita. No entanto, a experiência pandêmica da Covid-19 mostra que a mecanização, automação e digitalização dos processos da cadeia de suprimentos pode ser uma maneira de garantir protocolos de saúde e segurança, aumentando a resiliência contra choques”, finaliza Saenger.
(Embrapa Café)