Essa foi a fatídica data da colisão do avião Cessna U206B monomotor, de prefixo PT-MGH (Papa Tango-Mike Golf Hotel), contra a face leste do Pico da Bandeira, que culminou na morte de várias pessoas e veio a se tornar o primeiro e maior acidente aéreo do Parque Nacional do Caparaó. O avião pertencia a uma companhia especializada em táxi aéreo chamada Tamig e nesse dia ele realizava um voo turístico entre Guarapari e Belo Horizonte, levando a bordo a família do industrial Chaffir Ferreira e sua esposa Paulina Ariosto Ferreira, suas duas filhas Maria Marcia e Maria Helena, e mais quatro netos e o piloto Geraldo Berg. Ou seja, morreram nesse acidente 9 pessoas e esse ano completa mais de meio século da tragédia.
O Acidente
O acidente, segundo a perícia da Força Aérea, ocorreu devido a uma falha de navegação do piloto, que por conta dos últimos e fortíssimos temporais sobre a região do Caparaó, resultou no aumento dos nevoeiros e no acumulo de nuvens, comprometendo a navegação visual do piloto. O Avião desorientado deve ter perdido altitude, o que levou a se chocar contra a face leste do Pico da Bandeira, um local de dificílimo acesso. O Cessna se partiu em três pedaços.
O Pico da Bandeira é nacionalmente conhecido por sua tradicional caminhada de madrugada, realizada pelos montanhistas, para ver o sol nascer. Com seus 2.892 de altitude, o seu cume está quase sempre acima das nuvens, o que favorece comtemplar esse espetáculo natural da mãe natureza e em contrapartida se torna um risco real a aviação, sobretudo a de navegação visual que ocorrem, em geral, em altitudes baixas (até cerca de 3 mil metros de altitude) onde ainda há uma boa visualização do solo e geralmente o piloto voa abaixo das nuvens, e esse fato pode ter potencializado o acidente aéreo com o Cessna.
O Resgate
No dia 7 de março de 1968, a tropa de elite da Aeronáutica conhecida como PARA-SAR (Paraquedismo Salvamento e Busca), saltaram de paraquedas na face leste para alcançar os destroços do avião. O corpo do piloto foi encontrado aproximadamente a 15 metros da cabine do aparelho, os demais cadáveres estavam no resto dos destroços espalhados pela montanha.
E por terra soldados do 11º Batalhão de Policia Militar de Minas Gerais, sediados em Manhuaçu, também realizaram uma expedição de resgate, e durante a escalada das íngremes escarpas do pico, 15 soldados, mesmo com guias que se diziam experientes, se perderam na mata o que quase acarretou em uma outra tragédia. Igualmente penoso foram as expedições de resgate formada pelos familiares das vítimas. O relevo do Parque Nacional do Caparaó e extenuante, acidentado e agressivo. Os riscos de hipotermia, fraturas, mal da montanha, desorientação são sempre presentes.
A duras penas conseguiram recuperar os corpos das vítimas, e eles foram levados para o município de Espera Feliz e de lá para Belo Horizonte onde receberam um funeral digno.
O Cruzeiro, O Cristo Redentor e a Torre
No cume do Pico da Bandeira existe um cruzeiro, que serve como marco daquele que já foi considerado o ponto culminante do nosso país. No entanto, devido ao fato desse terrível acidente, o cruzeiro também seria uma forma de homenagear as vítimas. E próximo a ele existe uma torre de aço abandonada, que teria como função principal de servir de orientação para aeronaves, e em sua base existe a imagem de um Cristo Redentor. Seria igualmente uma homenagem aos falecidos?
O Cessna
É considerado até hoje, uma aeronave robusta e bastante segura, amplamente utilizada para o transporte de cargas e taxi aéreo, no entanto em 1968, os pilotos não contavam com as melhores condições tecnológicas para voar e tudo era muito precário, inclusive as comunicações via rádio.
Por Marcio do Nascimento Santana, Historiador com formação em Arqueologia, Montanhista e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim.
Fonte: Dia a Dia ES