Tecnologia é ideal para pequenas propriedades que podem usar a fertirrigação em pastos e lavouras
Minas Gerais é o maior produtor de leite do país. São aproximadamente 9 bilhões de litros por ano, que saem de milhares de propriedades que investem na pecuária leiteira, em todas as regiões do estado. A maioria é de pequeno porte, onde é utilizada a mão de obra familiar.
No trabalho diário nas propriedades, muitos produtores enfrentam uma dificuldade após a limpeza de currais, estábulos e salas de ordenha: o que fazer com os dejetos líquidos que saem desses ambientes. Os dejetos são a mistura de água, urina e fezes dos animais.
“Os dejetos de bovinos possuem nutrientes, mas quando não são tratados e lançados no meio ambiente de qualquer forma, se tornam um potencial poluidor das águas e do solo. E isso é prejudicial à saúde. Nossa preocupação é buscar tecnologias que vão resolver o problema e trazer retorno para o produtor”, explica Jane Terezinha Leal, coordenadora estadual de Saneamento Ambiental da Emater-MG.
Ela explica que a Emater-MG, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), trabalha com tecnologias já existentes e que possam ser adequadas ao agricultor familiar. Uma dessas tecnologias é o uso de esterqueira para tratamento de dejetos líquidos, seguida da fertirrigação.
A esterqueira é um tanque escavado e impermeável usado para a fermentação dos dejetos. Essa impermeabilização deve, preferencialmente, ser feita com uma geomembrana, que é uma manta com espessura e material adequados para impedir que os dejetos depositados na esterqueira infiltrem e contaminem o solo. Mas, caso o produtor tenha disponibilidade de material, ela também pode ser feita de alvenaria para reduzir o custo. O importante é que seja bem impermeabilizada.
Com a fermentação na esterqueira, o poder poluidor dos dejetos é reduzido, possibilitando o seu aproveitamento como fertilizante em lavouras e pastagens. Para que o processo ocorra de forma adequada, a esterqueira deve ter 2,5 metros de profundidade, formato de trapézio, com a base inferior menor que a base superior. A capacidade de cada esterqueira será determinada pela quantidade de dejetos que são produzidos na propriedade. “Isso vai depender do número de animais, quantas ordenhas são feitas por dia, se o rebanho passa mais tempo no pasto ou no curral”, explica a coordenadora da Emater-MG.
Segundo Jane Terezinha, a cada dia que as instalações (sala de ordenha, curral, estábulo) são lavadas, os dejetos líquidos devem ser depositados na esterqueira, onde ficam por 60 dias fermentando, graças às reações bioquímicas que ocorrem no material. “Este é um tempo de segurança para que o material não cause dano ambiental ao solo e possa se absorvido pelas plantas, sem chegar aos cursos d´água. Depois desse tempo de espera pode se tirar aos poucos o material que, a esta altura já se transformou em biofertilizante. Mas não se retira todo o material de uma vez. Ele é usado aos poucos na pastagem ou lavouras”, explica.
Chorumeira
Para retirar o biofertilizantes da esterqueira e fazer a fertirrigação de pastos e plantações, a coordenadora da Emater-MG recomenda o uso de uma chorumeira. “Ela é um equipamento acoplado a um trator que retira o material do tanque e lança nas pastagens. O produtor não precisa comprar uma chorumeira. Ele pode alugar o equipamento porque fica mais em conta. Muitas vezes, as associações de produtores alugam uma chorumeira para que vários interessados usem o equipamento no mesmo período”, afirma.
Além disso, Jane Terezinha faz um alerta. Para usar o biofertilizante produzido nas esterqueiras é preciso ter critérios. “É feito um projeto técnico, com base na área disponível e também na cultura que vai ser adubada. E, principalmente, uma análise de solo para ver se ele é adequado para aquela fertirrigação, se ele vai reter os nutrientes”, explica a coordenadora da Emater-MG.
O pecuarista José Ney da Silva e seu filho Éder construíram uma esterqueira e usam a fertirrigação na pastagem e lavouras de milho, numa propriedade de gado de leite em Piedade dos Gerais, região Central do estado. “Facilitou demais. A gente lava o curral e escorre o caldo para o tanque. Depois captamos com a chorumeira e já lançamos no pasto. O benefício no pasto é visível. Com pouco tempo já dá uma melhora”, diz Éder Silva.
Vantagem econômica
De acordo com Jane Terezinha, além do benefício ambiental a construção de esterqueiras aliada ao uso da fertirrigação, também tem um impacto econômico na propriedade. “Os produtores percebem que estão reduzindo o custo usando menos adubo químico, além da mão de obra que fica mais fácil usando a fertirrigação”.
“Você parar de comprar ou reduzir o adubo químico é outra vantagem. Sem falar no benefício que vai ser para o solo. Eu vou devolver para o solo aquilo que o gado ou que a planta tirou”, afirma Éder.
Projetos
Os pecuaristas interessados em construir uma esterqueira e usar a fertirrigação podem entrar em contato com os escritórios da Emater-MG para solicitar a elaboração de um projeto. A empresa também produziu um vídeo que mostra a experiência do uso da esterqueira no município de Piedade dos Gerais. O vídeo faz parte de uma série de documentários técnicos disponível no site da Emater-MG e que pode ser acessada clicando aqui.
(Fonte: EMATER-MG)