Último registro oficial da espécie no estado foi feito em 1992. Serpente peçonhenta é considerada criticamente ameaçada no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia. Jararaca-verde é considerada criticamente ameaçada no RJ, BA e ES
Você entraria numa floresta à noite para procurar uma serpente peçonhenta? Esse parece ser um desejo pouco comum para a maioria das pessoas, mas para Thiago Marcial de Castro essa era uma missão e também uma vontade pessoal.
Afinal, a busca não era por uma espécie habitual, mas sim por uma protagonista singular das nossas matas: a jararaca-verde (Bothrops bilineatus), também conhecida como jararaca-de-patioba, devido ao hábito de viver em árvores.
A espécie, que tem ampla distribuição pelo país, ocorre em áreas de floresta amazônica e atlântica, mas é considerada criticamente ameaçada de extinção nos estados do Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo.
Neste último estado, Thiago começou uma jornada em busca da jararaca, mais precisamente na área da Área de Proteção Ambiental (APA) Pedra do Elefante, no munícipio de Nova Venécia (ES).
Biólogo e herpetólogo, Thiago se dedica desde 2004 ao estudo dos répteis. Atualmente, está produzindo o livro “Répteis do Espírito Santo”, em parceria com os biólogos Renato Silveira Bérnils e Thiago Silva Soares. Pensando em coletar material para o novo trabalho, ele se lançou dentro da mata, com destino escolhido a dedo.
“Em 2017 o botânico Anderson Alves-Araújo, se deparou com um indivíduo da jararaca-de-patioba e mandou pra gente, e foi a partir desse conhecimento que eu fui atrás do bicho nesse local”, pontua Marcial.
Embora o encontro tenha ocorrido há menos de dez anos, oficialmente, a jararaca-verde estava considerada desaparecida nessas bandas há, pelo menos, 30 anos.
O último registro que comprovava a presença da espécie na região foi feito em 31 de julho de 1992. “Esse foi o último registro oficial da jararaca-de-patioba, com coleta de espécime e imagens, e ocorreu no município de Conceição da Barra, norte do Espírito Santo, há três décadas”, complementa Thiago.
O avistamento em 2017, porém, foi o fio condutor para as explorações do herpetólogo na APA. O local era uma pista para onde ele podia seguir, mas o desafio de encontrar a tão desejada serpente era enorme.
Thiago realizou mais de cinco incursões pela Mata Atlântica preservada e, em algumas ocasiões, tinha a companhia da esposa Joyce Teodora, que também é bióloga.
“Inúmeras vezes pensei em desistir, não só pelo sucessivo não encontro da espécie, mas pelo fato de ter utilizado recurso próprios, sem qualquer contribuição de fomento à pesquisa. As despesas contavam com hospedagem, alimentação, combustível, tudo custeado por mim”, comenta ele.
Depois de percorrer áreas de terrenos declinados, que dificultavam o acesso, chegou a recompensa das buscas noturnas. Enrolada em um galho estava a jararaca-verde, o tesouro escondido da Mata Atlântica do Espírito Santo.
“Foi uma realização profissional e pessoal enorme, sensação de missão cumprida, e a felicidade do reencontro de uma população saudável da jararaca-de-patioba nessa região. Esse achado ilustra a importância das unidades de conservação e certamente servirá como ponto de partida para inúmeras pesquisas na APA”, acrescenta.
A jararaca-verde é uma espécie extremamente rara no estado do Espírito Santo e, no ano de 2022, foi incluída na lista estadual de espécies ameaçadas de extinção, na categoria “criticamente ameaçada”.
Segundo o herpetólogo, essa serpente é exigente quanto a qualidade do hábitat e vive apenas em áreas de florestas preservadas. Como principal ameaça à espécie arborícola, está o desmatamento desenfreado.
Na APA Pedra do Elefante, futuramente, devem ser feitas pesquisas para estudar melhor o animal que encanta os especialistas por sua coloração viva, além de estimar a população que vive por ali.
Medindo cerca de um metro de comprimento, a jararaca-verde (Bothrops bilineatus) é uma serpente peçonhenta de hábitos noturnos, com uma característica que chama atenção: apresenta uma coloração esverdeada particular.
A tonalidade por sua vez, revela um pouco sobre o comportamento dessa espécie. O verde que se estende por todo o corpo, é ideal para se camuflar no ambiente em que vive: árvores da Amazônia e Mata Atlântica. No período de atividade, a jararaca se alimenta de anfíbios, pequenos mamíferos e aves.
Como suas parentes jararacas, ela pode ocasionar acidentes ofídicos moderados e graves. É considerada uma excelente indicadora de qualidade ambiental e sua presença em determinado local, aponta a existência de uma riqueza de outras espécies e grupos animais.
Fonte: DNEWS