Produzir café no Brasil está, pelo menos, 50% mais caro quando se fala na compra de fertilizantes. De acordo com consultorias ouvidas pelo site Notícias Agrícolas o câmbio e a demanda aquecida para insumos no mercado de grãos, justificam as valorizações.
Dados do Rabobank mostram que nos últimos 12 meses, os fertilizantes tiveram uma alta de 55%, os defensivos registraram valorização de 12% e os produtores ainda enfrentam, neste momento, uma elevação nos preços do diesel.
“A gente não pode deixar de mencionar que quando se fala em custo de produção, a gente também precisa mencionar o custo do diesel, que é um componente importante e quando a gente olha nas médias das capitais, a gente vê que em relação a média maio/2021 contra a média maio/2020 o diesel está 47% mais caro”, comenta Guilherme Morya, analista de mercado do Rabobank.
No caso dos fertilizantes, o analista comenta que além do impacto do câmbio, os custos dos insumos que subiram no período. “Essa alta das commodities no geral fez os preços dos fertilizantes se valorizarem. Você tem o café em alta, açúcar, dos grãos em alta, então uma coisa acaba puxando a outra”, acrescenta.
Apesar da valorização no período, Guilherme destaca que a preocupação daqui pra frente é com as compras para os próximos anos. “Boa parte dos fertilizantes o produtor não comprou com essa alta dos 50%, comprou mais barato. E quem fez o barter agora no mês de maio, começo de junho, está conseguindo fazer uma relação de troca”, comenta.
Com as altas dos últimos dois meses na Bolsa de Nova York para o café tipo arábica, os números da consultoria mostram ainda que a relação de troca em maio deste ano está mais positiva quando comparado com o mesmo mês no ano passado está mais positivo.
“A relação está 3% melhor do que em maio do ano passado. Agora, se a gente fizesse esse cálculo no mês de março, por exemplo, a relação de troca seria 30% pior do em que relação a março/2020”, acrescenta. No final de março o produtor precisava de 3.36 sacas de café para comprar uma tonelada de insumos, atualmente o produtor precisa de 2.75 sacas.
Os dados levantados pela StoneX também confirmam a alta no custo de produção. De acordo com Luigi Bezzon, analista de mercado de fertilizantes, os principais insumos registraram expressivas altas, ficando acima inclusive da média dos últimos cinco anos.
No caso da ureia, a relação de troca está 11.5 sacas por tonelada, o que representa 15% mais alto que em 2020 e 62% em relação à média dos últimos cinco anos. No caso do MAP, a relação de troca é de 18 sacas por tonelada, número que representa 27% mais elevado em relação a 2020 e 63% na média dos últimos cinco anos.
“A tendência é que os preços continuem elevados. Atualmente nós temos no mercado um cenário de baixa disponibilidade global e isso deve sustentar os preços nos patamares atuais até, pelo menos, o início da safra de Verão do Brasil”, comenta o especialista.
Já quando o assunto é mão de obra, Fernando Maximiliano, analista de café da Stonex, destaca que também foi observado alto nos custos. No caso do café conilon o aumento da mão de obra foi de 12% quando se compara o mês de março 2020 e março deste ano. Na produção de café tipo arábica o número ainda mais expressivo, com alta de 26,8%.
“A alta nos preços de café reduziu um pouco esse impacto na relação de troca, mas podemos observar nesses números que ainda está acima da média. O produtor precisa estar atento daqui para frente”, comenta Fernando.
Para o analista Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria, para garantir os insumos para a safra do ano que vem – que na teoria é de ciclo alto para o Brasil, é preciso que o produtor tenha em mãos um plano de comercialização e com ele fazer análise dos custos nas lavouras, avaliar dólar e negociação na bolsa e com isso montar o próprio planejamento.
“Esse planejamento te ajuda passar pela alta dos custos de produção com menos impacto. É importante e necessário fazer esse cálculo para entender em qual momento deve-se fazer essa trava/essa relação de troca”, acrescenta o especialista.
Orienta ainda que o produtor faça um cálculo básico para achar o “número” ideal para fechar negócio. “É preciso entender quanto e quando eu preciso vender, saber qual é o valor máximo para esperar realizar essas travas. O produtor passa o ano todo fazendo o café e não deve vender em poucos minutos, é preciso analisar”, comenta.
Apesar das chuvas dos últimos dias no parque cafeeiro, a safra do ano que vem ainda gera muita incerteza no setor. Os volumes de chuva continuam abaixo da média e ainda não se sabe os reais impactos da irregularidade das chuvas e altas temperaturas registradas na última florada. Ainda assim, o produtor tem participado do mercado, principalmente nas últimas semanas quando os preços subiram de maneira expressiva na Bolsa.
De acordo com dados da Safras & Mercado, a produção de 2022 já tem 20% da safra comprometida, mesmo com as incertezas que sondam o mercado. “Nós estimamos que pelo menos 20% da safra já esteja comprometida. Claro que isso corresponde ao potencial de cada produtor. No arábica esse número é mais expressivo, mas no conilon pelo menos 12% da safra já está comercializada. É um número muito bom para um safra que ainda nem começou a se desenvolver”, comenta.
Ainda de acordo com o analista, o cenário ainda é favorável para a relação de troca, mas destaca que o produtor precisa estar atento e continuar agindo com certeza cautela. “É preciso ter cuidado para não errar a mão. Não sabemos o tamanho da safra, apesar de na teoria ser uma safra cheia ano que vem. O produtor não pode exagerar e continuar tentando aproveitar os momentos de alta. O que não pode é exagerar, usar as estratégias adequadas”, finaliza.