domingo , 24 novembro 2024
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Fervedouro: agricultores familiares investem na produção sustentável de cafés especiais

A cafeicultura do município de Fervedouro, localizado na região produtora conhecida como Matas de Minas, está passando por uma transformação. A atividade é desenvolvida predominantemente por agricultores familiares que, nos últimos anos, começaram a investir na produção sustentável de cafés especiais, com a orientação da Emater-MG, empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A mudança teve início em 2014, quando o técnico da Emater-MG, Adenilson Mendes Chaves, começou um trabalho de melhoria da qualidade do café com 10 agricultores, numa parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura. Uma das primeiras iniciativas foi levar o grupo para conhecer propriedades em outros municípios da região, que já estavam num estágio mais avançado de produção de cafés especiais. “Visitamos municípios que são referência na região, como Araponga, Caparaó e Espera Feliz. Eles também começaram a participar de simpósios, cursos, feiras e concursos. A ideia era que o pessoal fosse conhecendo melhor o universo do café”, explica.

Hoje o grupo que investe no cultivo de cafés especiais em Fervedouro conta com 30 produtores. O técnico da Emater-MG relata que, num segundo momento, a mudança para melhoria da qualidade ocorreu na colheita e secagem dos frutos. “O pessoal começou a fazer a colheita seletiva, quando são retirados do pé apenas o café maduro. Também houve investimentos na lavagem do café, construção de estufas e de terreiros suspensos para a secagem adequada do produto. A demanda por análise de solo também aumentou, com uma adubação mais racional”, afirma.

 

A jovem cafeicultura Bruna Carolina da Silva, de apenas 22 anos, se tornou a principal representante desta nova fase da cafeicultura de Fervedouro. Além da juventude, ela chama atenção pelo jeito espontâneo e apaixonado quando fala sobre a atividade, e também pela visão empreendedora.

Bruna planta café junto com a família, numa propriedade de 17 hectares. Ela toma todos os cuidados durante a colheita seletiva, investiu em terreiros suspensos para a secagem, e faz os processos de torra e moagem do café na propriedade. Os cuidados garantiram ao produto, conhecido como Café Especial da Bruna, a pontuação que define os cafés especiais.

O trabalho desenvolvido pela jovem em Fervedouro se destacou até fora do país. No ano passado, ela foi finalista do Premio a La Innovación Juvenil Rural de América Latina y el Caribe (Prêmio Juventude Rural Inovadora da América Latina e do Caribe). A cafeicultora concorreu na categoria Geração de Renda, pela experiência inovadora e empreendedora com a produção de cafés especiais. O prêmio é uma iniciativa do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização das Nações Unidas (ONU).

O reconhecimento internacional e o empenho em produzir um café de qualidade superior abriram o mercado para a jovem, que hoje vende a produção para vários estados do país. “Ano passado, fizemos 10 sacas. Por a gente ter a nossa marca, a gente vendeu o nosso café (cada saca), por mais de R$ 1,6 mil”, conta.

 

Ronivon Xavier Rosa é mais um agricultor familiar de Fervedouro que começou a investir em cafés especiais. Em 2019, ele construiu uma estufa, com terreiro suspenso, para melhorar os cuidados pós-colheita. E o resultado não demorou a aparecer, com destaque nos concursos municipais de cafés especiais.

“Eu ganhei o concurso de Fervedouro em 2019. Em 2020, eu continuei, já deu para fazer uma quantidade maior porque a colheita foi mais fácil. E ganhei de novo o primeiro lugar”, conta o produtor.

Para este ano, o Ronivon pretende aumentar a área da lavoura dedicada ao café especial e, também, a quantidade de terreiros suspensos. “Comecei sozinho, com a ajuda do Adenilson da Emater, e depois o próprio manejo vai te ensinando a trabalhar. Fui vendo as melhores variedades que se adaptavam para o café tipo especial e, graças a Deus, está indo”, afirma.

Além do concurso municipal, os cafeicultores de Fervedouro também foram premiados em concursos regionais de qualidade de café e chegaram à final do Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais.

 

Fervedouro cafeicultora

A produtora Nelizilda Castelani Doná Ferreira também resolveu aprimorar o sistema de produção para vender um café diferenciado. Dos 16 mil pés de café da propriedade, foram separados 2 mil para a produção de café especial. “Tivemos o incentivo da Emater, que nos orientou a fazer cata seletiva dos grãos e construir terreiro suspenso. Se tudo der certo, queremos aumentar os talhões para fazer cafés especiais”.

Ela destaca também a criação da Associação dos Cafeicultores Familiares de Fervedouro (ASCAFF). Em grupo, eles conseguem comprar insumos a preços mais acessíveis e também trabalham para divulgação do café do município. “Tivemos a ideia e fizemos um concurso de café especial para mostrar nosso trabalho, mostrar que temos que cuidar do café, porque ele é um alimento, e assim também agregar preço ao produto de qualidade”, informa Nelizilda Ferreira.

Meio ambiente

Um dos destaques do trabalho desenvolvido com os cafeicultores de Fervedouro é o cuidado com o meio ambiente. A produção sustentável no município fez parte dos nove projetos que deram o primeiro lugar à Emater-MG, na categoria Destaque Estadual, na 11ª edição do Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza. O prêmio é uma referência nacional e homenageia o ambientalista mineiro, falecido em 2008, que é considerado um dos precursores da consciência ecológica na América Latina.

“Além da preservação de nascentes e manutenção das Áreas de Preservação Permanente, os produtores fazem o uso consciente de defensivos, visando reduzir custos e causando o menor impacto possível ao meio ambiente”, informa o técnico da Emater-MG

Na propriedade de Bruna Carolina, foram construídas bacias de contenção e curvas de nível para reter a água no solo. “Já temos uma área fechada de preservação, que é nossa reserva ambiental. Temos uma outra área que vamos cercar este ano. As minas já estão cercadas. Sobre os defensivos, a gente usa o mínimo possível, só se tiver alguma coisa incontrolável”, explica Bruna.

Os mesmos cuidados também são tomados na propriedade do Ronivon Xavier, com a construção de bacias de captação de água da chuva e manutenção das estradas vicinais, para evitar enxurradas. “A água aqui na propriedade aumentou muito. E este ano já reduzi bastante o uso de agrotóxico. Estou usando só adubo. E uso a roçadeira, no lugar da enxada, para evitar erosão”, conta o produtor.

(EMATER-MG)

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