O biochar, um material rico em carbono, está ganhando destaque no cenário moderno como uma solução prática e sustentável para combater a degradação do solo e enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Em entrevista, o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias explicou como essa técnica, que remonta aos tempos dos povos indígenas da Amazônia, pode ser a chave para uma agricultura mais produtiva e resiliente.
“O biochar foi amplamente usado pelos índios da Amazônia. Eles queimavam resíduos orgânicos, animais e cinzas, e os depositavam em áreas específicas. Após anos, esses solos se tornavam altamente férteis, conhecidos como ‘terra preta’. Hoje, estamos redescobrindo essa prática para melhorar a produtividade agrícola e combater problemas ambientais”, explicou Cuthi Dias.
Benefícios
O biochar oferece uma gama de benefícios para o solo, influenciando positivamente suas características físicas, como estrutura, porosidade, e resistência à compactação. “O biochar melhora a aeração do solo e aumenta a infiltração e retenção de água, permitindo que as raízes explorem uma área maior”, detalha o engenheiro.
Graças à sua grande área superficial e à presença de microporos, o biochar desempenha um papel direto na retenção de água, um fator essencial para o aumento da produtividade agrícola. “Muitos estudos mostram que a alta capacidade de retenção de água proporcionada pelo biochar é um dos principais motivos para a melhora nas colheitas”, afirma Cuthi Dias. Além disso, o biochar aumenta a Capacidade de Troca de Cátions (CTC), otimizando a disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Outro destaque é a atuação do biochar no controle de pH do solo. “O biochar tem um pH neutro a básico, o que pode aumentar o pH do solo e reduzir a toxicidade de elementos como o alumínio”, pontua o agrônomo. Isso resulta em solos mais equilibrados e menos propensos a problemas de acidez.
Além disso, o biochar também ajuda na proteção contra doenças. Ele pode induzir mecanismos de defesa nas plantas e absorver toxinas de microrganismos fitopatogênicos, promovendo uma proteção natural. “Ao alterar a comunidade microbiana do solo, o biochar contribui para a supressão de patógenos”, acrescenta Cuthi Dias.
Sequestro de Carbono
Além dos benefícios diretos ao solo, o biochar desempenha um papel crucial no sequestro de carbono. No processo de pirólise, a biomassa é carbonizada em altas temperaturas, sem a presença de oxigênio, capturando o carbono que seria liberado no ambiente em sua decomposição natural. “O biochar é uma das formas mais estáveis de manter o carbono no solo, contribuindo diretamente para a redução de gases de efeito estufa”, explica o engenheiro.
O biochar também atua na redução de emissões de óxidos de nitrogênio (N2O) e na minimização da lixiviação de nitratos (NO3-), promovendo a mitigação de gases de efeito estufa. “Isso torna o biochar uma alternativa não só para a melhoria das condições do solo, mas também para o combate às mudanças climáticas em escala global”, reforça Cuthi Dias.
Cuthi Dias também destaca o potencial do biochar como ferramenta para a biorremediação de solos contaminados. “Materiais carbonáceos como o biochar são excelentes adsorventes de contaminantes, podendo ser usados para mitigar a poluição em áreas com metais pesados, como cádmio, chumbo e zinco”, destaca.
Embora o uso do biochar ainda esteja em fase de expansão no Brasil, o engenheiro agrônomo acredita que essa tecnologia terá um papel crescente na agricultura nacional. “Nos Estados Unidos, o incentivo ao biochar já está em curso, principalmente devido às condições climáticas adversas. No Brasil, ainda falamos pouco sobre isso, mas o biochar tem grande potencial, especialmente em solos intensivamente utilizados, como os de hortaliças”, conclui Cuthi Dias.
“Estamos diante de um planeta com todas as condições para a vida, mas é preciso que adotemos práticas como o biochar para garantir que continuemos a usufruir desses recursos”, finaliza o engenheiro.
Fonte: Agrolink