Produto excretado por ave é vendido por R$ 1.118 o quilo no Brasil e ainda mais caro no exterior
O pássaro jacu, que já foi considerado uma praga nas plantações de café do Sudeste do Brasil, agora desempenha um papel crucial na produção deum dos cafés mais caros do mundo. Conhecido como jacuaçu, esse pássaro tem um paladar refinado, escolhendo cuidadosamente as frutas mais maduras para consumo. Na fazenda Camocim, localizada em Domingos Martins, Espírito Santo, os pés de café crescem em harmonia com uma floresta exuberante, seguindo princípios de agricultura biodinâmica, sem o uso de produtos químicos.
O café produzido com a colaboração dessas aves é vendido por impressionantes R$ 1.118 o quilo no Brasil, alcançando preços ainda mais elevados no exterior, em lojas de luxo como a britânica Harrods. “Em função do trabalho que a gente tem para fazer esse produto, ele é naturalmente caro. Não tem como fazer um café de jacu com custo baixo… É um produto escasso e a produção é incerta, porque depende do apetite do jacu”, afirma Henrique Sloper.
No entanto, o jacu, com sua plumagem preta e garganta escarlate, não foi sempre bem-vindo na fazenda Camocim. Inicialmente, ele era visto como uma praga que ameaçava as colheitas e causava problemas. Foi somente quando o proprietário, Henrique Sloper, conheceu o café Kopi Luwak na Indonésia, que é feito com sementes coletadas dos excrementos de civetas, que ele teve a ideia de transformar o jacu de inimigo em aliado.
Ao contrário do Kopi Luwak, que enfrenta denúncias de maus-tratos a civetas em cativeiro, o jacu brasileiro é livre para fazer sua escolha de frutas e depositar os grãos de café em seu habitat natural, a floresta atlântica do litoral brasileiro. Nenhuma substância química ou produto transgênico é usado na plantação de café, garantindo sua pureza.
Serve não só como selecionador, como também alarme de colheita. Onde ele come, o café está maduro”, explica.
Os excrementos do jacu, após a colheita, lembram a aparência de um pé de moleque, com grãos de café incrustados em uma pasta enegrecida. Depois de secos em uma estufa, os grãos são cuidadosamente descascados e classificados antes de serem armazenados em uma câmara fria. Eles só são retirados sob demanda do cliente para evitar desperdícios.
Embora o processo seja meticuloso e trabalhoso, o resultado é um café excepcionalmente saboroso. O café extraído dos excrementos dos jacus representa menos de 2% da produção total da fazenda, mas desempenha um papel vital na seleção dos grãos mais maduros e prontos para a colheita.Além de seu sabor único, a produção sustentável desse café atrai a atenção dos consumidores em busca de uma experiência autêntica. “Os pássaros têm um transito intestinal extremamente curto. Praticamente entrou, e depois de alguns segundos já está saindo. Então não existe propriamente qualquer tipo de processo bioquímico, não dá tempo”, explica o analista de café, Ensei Neto.”Basicamente, o que você tem como diferencial, que o pássaro promove, é essa seleção dos grãos maduros. Ele não adiciona nada a mais. Mas a história é boa”, diz Neto.
Fonte: O GLOBO