O Ministério da Agricultura e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançaram, nesta quinta-feira (8), uma nova modalidade que permite aos produtores rurais ampliar o acesso ao crédito.
Trata-se do Crédito de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Garantida pelo BNDES, a operação poderá ser utilizada para renegociações de dívidas fora do sistema bancário ou concessão de novos créditos. Diferente do Crédito Rural controlado, o formato não está relacionado aos aportes oficiais da política pública. Além disso, ele pode ser utilizado tanto para crédito de custeio como de investimento. A estrutura da operação consiste na emissão de Cédula de Produto Rural (CPR) pelos produtores para a originadora. Os papéis são transformados em CRA por uma securitizadora, e são negociados no mercado financeiro. A garantia do BNDES, o que reduz os riscos da operação e, consequentemente, os juros para os produtores.
O projeto piloto desta nova modalidade está sendo realizado pela Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, de Não-Me-Toque (RS), que reúne 7,7 mil produtores cooperados de 32 municípios do norte gaúcho.
“Viabilizar a produção, com segurança, é estratégico para a Cotrijal. Estamos otimistas com a possibilidade de acessar crédito privado e honrados por sermos pioneiros nessa iniciativa-piloto”, afirma o presidente da Cotrijal, Nei César Manica.
Conforme dados da consultoria Uqbar, os CRAs movimentaram R$ 15,81 bilhões em 2020. Uma alta de 28% na comparação com 2019. No total, foram 65 operações envolvendo 113 títulos. Com a entrada da garantia do BNDES, esses valores devem saltar nos próximos anos garantindo um novo cenário para o agronegócio brasileiro.
“O CRA Garantido é o somatório de esforços que fez nascer essa ferramenta tão importante e inédita para o nosso agronegócio. Que ele sirva de exemplo para outras cooperativas e para que outros bancos e seguradoras também possam entrar. Precisamos de muita gente, o agro cresceu muito. Temos poucos recursos oficiais, que têm que ser dirigidos para os pequenos e médios produtores”, disse a Ministra Tereza Cistina, na live de lançamento da nova modalidade.
O instrumento de garantia, ainda pouco explorado no Brasil, vai permitir apoiar pequenos e médios empreendedores, não só no setor da agropecuária, mas nas mais diversas indústrias Brasil.
Como funciona o CRA Garantido?
A Bolsa de Valores do Brasil, a B3, define o CRA como um título de renda fixa lastreado em recebíveis originados de negócios entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, abrangendo financiamentos ou empréstimos relacionados à produção, à comercialização, ao beneficiamento ou à industrialização de produtos, insumos agropecuários ou máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária.
Na prática, funciona da seguinte forma: produtores rurais que precisam comprar insumos negociam com a empresa fornecedora a compra do produto a partir de uma Cédula de Produto Rural (CPR), principal título de financiamento do sistema de crédito agrícola e que serve como lastro para a emissão do CRA.
A empresa que ficou de receber o valor pela venda do insumo a longo prazo, caso queira, pode adiantar os recebíveis. Ela, então, procura uma securitizadora – que pagará em dinheiro o valor que seria recebido futuramente e transforma esses créditos em títulos de renda fixa, os CRAs, que serão disponibilizados para negociação no mercado de capitais. Ao adquirir esses títulos, os investidores recebem uma remuneração prefixada, na maioria das vezes, com rendimento superior ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
O CRA tem atraído os investidores pelos bons rendimentos que oferece. Todavia, como típico instrumento de mercado de capitais, não recebe a proteção do Fundo Garantidor de Créditos. É aí que o CRA Garantido apresenta seu diferencial: o BNDES passa a ser o garantidor do crédito, gerando mais segurança à operação.
(MAPA/ AGROLINK)