Observações em campo mostram que ocorrem falhas, em número significativo, quando se faz a poda de recepa em lavouras de café, exigindo replantios.
O uso de podas em lavoura de café cresceu muito nos últimos anos. Antigamente, a poda só era usada em caso de cafeeiros atingidos por geadas. Depois, passou-se a usar a poda somente em caso de fechamento de lavouras, para voltar a abrir a área. Atualmente, a poda se tornou uma ferramenta para o manejo de cafezais, seja para recuperar a ramagem das plantas, seja para facilitar e economizar nos tratos e na colheita da lavoura.
No uso de podas em cafeeiros deve-se sempre observar o melhor tipo a ser empregado, conforme a lavoura se apresenta, procurando cortar o mínimo possível as plantas, pois, assim, a recuperação da produtividade é mais rápida. Nesse conceito, as podas mais usadas ultimamente são o esqueletamento/desponte e o decote, principalmente o esqueletamento, este não só para recuperar/renovar e multiplicar a ramagem lateral, produtiva, mas também para programar a safra, zerando num ano e obtendo safra alta no outro.
Os pequenos produtores, especialmente os de cafeicultura de montanha, têm adotado pouco o esqueletamento. Eles usam muito a recepa e justificam que, assim, a poda dura mais tempo e a brotação se comporta como se fosse uma lavoura nova, facilitando a colheita manual nas primeiras safras pelo porte mais baixo das plantas. Isso eles têm razão, mas acontece que essa poda exige trabalho de retirada dos troncos e abre a área para desenvolvimento do mato, e, ainda, demora para voltar à safra plena.
Uma outra desvantagem do tipo de poda por recepa é a grande quantidade de falhas que ela provoca na lavoura. Em toda a região de montanha, pode-se ver, de longe, nos morros, as áreas onde os cafeeiros não brotaram, aparecendo áreas sem plantas, como se fossem buracos vazios na lavoura. Isso acontece porque a recepa provoca grande morte de raízes, quase metade delas, pois a planta fica muito tempo sem copa, cuja folhagem supriria as reservas para o sistema radicular. Quando a recepa é realizada em lavouras já desgastadas, mais velhas, depois de safra alta, o problema de falhas na brotação se agrava.
Observações feitas em diversas lavouras de café, em propriedades da região de montanha, na Zona da Mata de MG e Sul do Espírito Santo, mostram que, após a recepa, é preciso fazer o replantio das falhas, de preferência usando mudas maiores. Foi verificado, ainda, que lavouras mais fracas, velhas e estressadas pela carga tendem a falhar mais sua rebrota, ao contrário de lavouras mais novas e de plantios adensados, as quais falham menos.
Conclui-se que: 1) A recepa deve ser usada só em último caso, quando as plantas perderam completamente a ramagem da parte baixa, até mais de 1 m de altura; 2) Em áreas de cafeeiros podados por recepa, ocorrem falhas significativas na rebrota, que devem sofrer replantio.
Grande quantidade de falhas em lavoura recepada, na região de montanha do Espírito Santo. Isso reduz o stand de plantas e diminui a produtividade. Nessa área onde foram contadas 280 plantas, havia 54 falhas, portanto, representando cerca de 19% de plantas a menos
Por José Braz Matiello | Folha Procafé
Fonte: Café Point